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Crónica do Caminho de Santiago
Bom caminho!

Muitos pessoas pensam que este caminho é só para peregrinos religiosos, que o fazem para cumprir promessas… mas estão enganados: grande parte das pessoas que ali vão, fazem os caminhos por variadíssimas razões.

«Mas afinal, porque vais andar a sofrer?» – É o que a maioria das pessoas pensa. A minha razão é bem mais profunda que isso. E não, não é religiosa; ainda que para nós seja espiritual. Quem nunca fez este percurso, pode pensar que o caminho é um hábito dos católicos – e também o é, obviamente – mas no caminho encontramos pessoas com objectivos diferentes.

O meu objectivo é o desafio, a superação, ir ao encontro com o meu eu, eu e a natureza – como se me aliviasse a alma, porque me traz muita paz. O desafio dá-me ainda mais confiança em mim e nas minhas capacidades. A superação mostra-me que sou capaz de qualquer coisa, mesmo daquelas que sempre afirmei não ser capaz.

Mas o melhor mesmo são as pessoas que conhecemos no caminho, pessoas incríveis que nos marcam e ficam para a vida, e o ambiente que se cria no caminho.
O caminho serve como reset, com momentos de reflexão, diálogo interno e de silêncio no meio da natureza. Isto é algo tão profundo, que é para mim difícil de explicar. É algo que se sente.

E eu tive a sorte de acompanhar um grupo de pessoas fantásticas, cada uma com os seus objectivos – criámos uma dinâmica espectacular.
Passámos em sítios “perdidos no mapa”, lugares que provavelmente nunca iríamos conhecer, lugares lindos que parece que só existem nos filmes ou nos contos de fadas. E é este contacto directo com a natureza que me dá ainda mais forças para continuar. Não há bolhas nos pés que me derrubem ou impeçam de chegar: eu sou mais forte que isso.

Ao longo do caminho em vários momentos, dei por mim afastada do grupo, sozinha nos meus pensamentos e a absorver toda a energia positiva que a natureza me transmite – acho que precisava disso. Até a mochila às costas é como se nos abraçasse, e o abraço da mochila reconfortava-me como se de alguém muito próximo se tratasse. Assim nos deixámos levar, com os pés e as pernas doridas, mas felizes!

E aquela simples expressão – «Bom caminho!» – que bem nos cai, vinda de pessoas que não conheces, que provavelmente não vais voltar a ver, mas que no meio das tuas dores, do teu cansaço, interrompe o teu silêncio profundo... E sabe tão bem. Dás por ti a fazer o mesmo, porque se te deu força ouvir «Bom Caminho!», vais querer dar essa força a quem passar por ti. É como se fosse um código, uma troca de energia positiva entre os peregrinos e caminhantes...

E a chegada a Santiago?!
Não tenho palavras para descrever.
Estar na catedral, depois de abraçar o Santiago, ouvir o padre falar a nossa língua materna na missa, os pés descalços que já não aguentam o calçado, o coração bate mais forte, e ali... só consigo pensar nos meus... Na minha família, em quem mais amo, quem mais precisa de mim, do meu apoio... E não consigo controlar as lágrimas, e chorei como uma criança a soluçar!

Aos meus companheiros só tenho a agradecer pelo apoio e pela paciência que tiveram comigo; são pessoas fantásticas que vão ficar no meu coração para a vida toda.

Espero voltar a Santiago, espero voltar a fazer o caminho, este ou outro, Finisterra, primitivo, caminho francês... Vamos embora.

Ao Grupo Desportivo, Maria de Fátima, obrigada pela organização das etapas, correu tudo lindamente bem.
Nem o apagão nos abalou ou impediu de continuar.
A nossa guia, Luísa... tu sabes que sou tua fã, obrigada por tudo e até já!

Bom caminho!

Por Célia Gouveia, 26-07-2025





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