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Caminho de Santiago a Finisterra – 1.ª Etapa
De Santiago de Compostela a Negreira
Vamos ao que interessa: o dia começou cedo no Dragão e rapidamente percebemos que desta vez a Jacinta ia abandonar o Pinto, dizem as más-línguas que é um teste a ver se ele se desenrasca sozinho; por outro lado, o João era a nova aquisição para esta jornada, e não sei se estava preparado psicologicamente para isto.
O grupo está desfalcado: a Adelina a recuperar da cirurgia, a Elvira com a realização de exames, a Belinha a meter nojo com a mania de que tem muito trabalho ao fim-de-semana, a Nandinha a laurear a pevide nos Açores e a pobre Manu a trabalhar do outro lado do mundo fazem falta neste grupo, mas já diz o ditado: «Antes só, que mal-acompanhados», e poucos e bons também é algo que nos assenta como uma luva.
Chega o autocarro, “Premium by Costa Ferreira”, e as manobras para estacionar pareciam revelar problemas futuros, nada que uma visita, dupla, à feira da Senhora da Hora não viesse a confirmar. E logo nesta etapa, que a Nandinha não vinha para nos indicar o melhor local para comprar a chouriça e os frescos mais frescos. Primeira prova superada, e lá apanhámos o resto do grupo nas Sete Bicas. Foi nesta altura que percebemos que ou o autocarro era enorme, ou o grupo era reduzido.
Começa a viagem até Valença, que o Continente espera por nós. Durante a viagem foi possível aferir que nem todos os filhos estão atentos – mas nada fica por dizer, e as mulheres da cozinha foram todas brindadas com mensagens de felicitações pelo Dia da Mulher.
Pequeno-almoço tomado, e agora é seguir até Santiago; no entanto, a nossa Laura revelou um ligeiro desconforto no pescoço/cervical que foi prontamente resolvido pela Madalena. Agora uma piada que só alguns vão perceber: a Madalena é um Rúben com menos meio metro. Contextualizando, o nosso amigo não vai para lado nenhum sem levar uma pequena bolsa que mais parece uma farmácia, não lhe escapa um único princípio activo: paracetamol, acetilsalicílico, ibuprofeno, tramadol, seguem sempre à mão e em doses adequadas à idade e ao peso, ou não fosse ele o maior especialista da área, um verdadeiro chatGPT da farmacologia.
A nossa entrada em Espanha foi o momento escolhido para comemorar o aniversário do Senhor Presidente. Parabéns, Caldas, pelo aniversário e pelo bolo delicioso. Chegados a Santiago seguimos para a Oficina do Peregrino para levantar a credencial e obviamente para a fotografia da praxe no km 0. Não vou dizer que chovia, até porque, tendo em conta o que nos esperava no dia seguinte, talvez se possa dizer que estava um sol magnífico.
Este percurso já era conhecido por quase todos os elementos (senão mesmo pela sua totalidade) e foi um desfrutar da paisagem bucólica até ao Café dos Arcos, onde foi realizada a pausa da banana/maçã, ou de outra coisa qualquer que o pessoal aproveitou para comer ou beber.
Daqui até ao km 79 foi sempre a bom ritmo, e chegados ao café era a oportunidade de almoçar e pôro carimbo. Como nota de rodapé devo dizer que o César, a Lurdes e a Rosa acabaram com o stock de café; ou isso, ou o colaborador do estabelecimento estava sem vontade de trabalhar e não serviu café a mais ninguém porque a siesta esperava por ele.
Pois é, nesta altura já toda a gente se recordava da penosa subida até Carballo, com uma inclinação digna de um prémio de montanha de categoria especial. Durante a subida todos reparam em que não existe controlo parental no grupo. Sem a minha cuidadora informal (Adelina) e sem a minha veterinária disponível 24/7 (Sónia), faço a subida em T-shirt, obviamente a pensar que ia ter de voltar a vestir a capa da chuva, mas tal só aconteceu mesmo próximo da ponte de Maceira, o que fez que quase tivesse morrido de frio, mas sem dar parte de fraca.
Chegados à ponte houve oportunidade para tomar café, ou beber algo mais retemperador, e obviamente carimbar a famosa credencial. A chuva era então uma constante e obrigou-nos a caminhar de forma apressada até Negreira.
Quando avistámos o Pazo de Chancela, a missão estava cumprida, pois Negreira estava já ali.
A aventura continua de autocarro até Cee. A nossa Marta descobriu que o casaco que tinha adquirido recentemente numa excelente promoção da Decathlon tinha um defeito: não é que um dos bolsos tinha um fecho duplo e o outro não?! Analisada a situação dramática pela Joana, foi rapidamente reposta a legalidade. Não se trata de um defeito, mas sim da possibilidade de dobrar todo o casaco, enfiando-o dentro do próprio bolso para uma arrumação facilitada, sendo assim, portanto, uma funcionalidade extra que só valoriza a excelente compra realizada.
Desenganem-se se pensaram que estava tudo resolvido: a Marta não descansou enquanto não demonstrou a funcionalidade com o casaco da Laura e com o casaco da Rosa, obrigando a primeira a retirar o casaco da mochila e a segunda a despir o próprio casaco. Felizmente o casaco da Emília era de outra marca e não teve de o despir para que a nossa demonstradora oficial fizesse o seu trabalho.
Não tínhamos ideia de que era tão longo e penoso o caminho até ao hotel, ou então estávamos cansados (quer de andar de autocarro, quer de caminhar) e quando vimos o hotel foi um respirar de alívio.
Check-in realizado, há que tomar banho (sim, que esta malta é malta limpinha). Para memória futura lembrem-se de que a água quente demora a chegar à torneira, mas a nossa Marta, desesperada, obrigou a Joana a questionar a recepção sobre a ausência de água caliente.
Para encerrar este dia só faltava mesmo o jantar, e não é que no meio da distribuição de lugares eu fiquei em frente à Marta?! Sim, é mesmo verdade!!!! Nesta altura o nosso fotografo oficial, o César, registava o momento para que no futuro existissem provas de quem esteve presente.
Faltavam dois elementos: o Cardoso e o motorista, que se juntaram a nós de forma a iniciar o jantar. Começou com um creme de marisco para alguns e uma açorda para outros, a que se seguiu uma costeleta com “salsa”, e, claro!, para variar a esquisitinha do costume não aprecia o molho de cebola e tomate a estragar as batatas fritas.
Apesar de a Rosa ter alertado para que fora de casa se come tudo o que vem no prato, e de a pessoa esquisita se preparar para remover todo o entulho que se encontrava em cima da costeleta, a nossa team leader Rosa resolveu prontamente o problema solicitando um dos pratos sem cobertura, e rapidamente se comeu tudo o que estava nos pratos.
Claro que a Marta reclamou durante o jantar todo que o prato que estava a comer era o que me estava destinado inicialmente, e que por esse motivo ela estava a sacrificar-se por mim... enfim, faz tudo para chamar a atenção.
Mas o pior ainda estava para acontecer: a sobremesa era uma bela macedónia de fruta... a nossa Joana ficou petrificada quando reparou que existia quivi nesta mistura. Há mais de 6 meses a praticar a dieta do quivi, em que comia de tudo menos quivi, e isso ia ser interrompido.
Convém salientar agora que o Álvaro ficou ao lado da nossa Marta, e esta informação tão pertinente é de extrema relevância para o dia que se segue.
Jantar terminado, e há quem esteja a ver o Braga-Porto, que por esta altura ainda era só um jogo mal disputado, já no quarto passou a ser mais uma tragédia e o Porto enfardou, sem fazer qualquer remate na segunda parte.
A noite foi tranquila, apesar de se ouvir alguma trovoada, e imensa chuva – o que fazia prever um dia complicado.
Por Célia Soares, 25-04-2025
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